Ilha da Madeira

(foto: Mercado de Funchal)
Madeira
Muito mais do que uma ilha. Madeira é única. Você parte de Lisboa coma sensação de estar voltando para casa. Após duas horas de mar, surgem "pedacinhos de rocha cercado de água por todos os lados". O avião se aproxima e você começa ver Funchal, surge um pequenino aeroporto construído em cima do mar e considerado o menor da Europa! A linda Madeira tem algumas das paisagens mais exóticas do mundo do vinho. Vinhedos, praias, paredões e um pôr-do-sol único. Em 1400 chegam os portugueses, a ilha era inabitada. Chama-se Madeira pela densa mata que a cobria;contam que teria "ardido" (queimado) por sete anos, tamanha quantidade de bosque fechado. Não há registro de animais na época, apenas de vegetação. Foi ponto de parada e abastecimento das grandes navegações: tudo o que pudesse ser produzido na ilha era elementar. Vinho é alimento e remédiopara combater o escorbuto, doença dos navegadores. Entre toda a rusticidade dos conhecimentos, uma alternativa era beber vinho em alto mar. O que ocorre é que o vinho original da Madeira era delicado demais para suportar o calor e umidade dos barcos: além disto, não eram tão bons. Um dia algum marinheiro resolve misturá-lo com rum, outro produto da ilha, e a história começa a ser desenhada. Mesmo assim, a acidez dos vinhos da Madeira ainda incomodava. Alguma vez, depois de uma longa viagem marítima, um barril sobra e retorna, misturado com álcool e pegando sol e tudo mais que a viagem proporcionava. Surgia então algo único, um vinho com sabor a caramelo, redondo, praticamente indestrutível e... delicioso! Explicar hoje é simples: expostos a situações extremas de frio, calor, o vinho se oxidava de forma gradativa. A técnica passou a ser estudada e repetida, com os famosos vinhos de "roda", os quais iam a barcos para girarem pelo mundo. As uvas da Madeira são as conhecidas Tinta Negra e as brancas Boal, Sercial, Verdelho, Malvasia, e as raríssimas Terrantez e Bastardo. São apenas seis empresas existentes, as quais elaboram cerca de 4 milhões de litros: as grandes Madeira Wine Company e Justino's, as familiares H&M Borges, Henriques e Henriques, Pereira e Oliveira e a pequenina Barbeito. Esta última ganhou repercussão internacional recentemente, onde Jancis Robinson a classificou como um "Chateau Lafite da Madeira". As uvas são produzidas por pequeninos agricultores, de no máximo um, dois hectares, em toda a ilha, aproveitando cada centimetro de terra (são raras as áreas planas: estradas e até o aeroporto são feitos sobre o mar). O clima é outro atrativo: próximo ao mar tem-se o sol e calor, sobe-se a colina está nublado e frio, isto a menos de cinco kilômetros um ponto do outro. A fermentação inicia e é parada com álcool vínico; assim, o vinho é doce. Após, há dois processos: estufagem ou canteiro. Na estufagem, o vinho permanece por três meses a 45 graus centígrados, oxidando todos os seus componentes. No canteiro, vai para barris usados, cuja função não é dar gosto de madeira, mas possibilitar esta oxidação de forma muito lenta. Praticamente indestrutível, dura séculos. A classificação se dá com terminações inglesas e portuguesas e são muitas, por exemplo dry, extra-dry, semi seco, semi doce, colheita, vintage, varietais, todas regulamentadas pelo Instituto do Vinho e do Bordado da Madeira. Há vinhos na Madeira elaborados em 1770, e estoques ainda em barris de vinhos de 1900, 1905 e muito mais. O triste é que no Brasil ainda se associa unicamente a culinária, sendo que muitos dos restaurantes sequer usa vinho Madeira na composição do molho do mesmo nome. Sempre deve ser guardado em pé, pois a rolha não suporta o álcool; após aberto, não tem limite de prazo. Acompanha sobremesas com chocolate, caramelo e é excelente opção de aperitivo. Vale visitar, desfrutar a excelente e baratíssima rede hoteleira, incluindo o hotel desenhado por Oscar Niemeyer, mais um dos destaques desta ilha paradisíaca, cheia de frutas, peixes e outras delícias.


(este artigo foi publicado pelo Jornal Bon Vivant)

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