Vales da Uva Goethe

Vales da uva Goethe

Clima, solo, homem e uva: estes são os quatro pontos que definem a identidade de um vinho, o terroir. O solo e o clima são fatores que não se pode mudar, necessita-se compreender. Já a interferência do homem se dá desde o plantio, o entendimento e aplicação da tecnologia e o equilíbrio com a natureza, onde irá definir qual variedade vai cultivar, a hora certa de colher. E o tipo de uva, quando se torna símbolo da região, é devido a ter ultrapassado não só o processo de adaptação, quanto criado um vínculo com as pessoas locais. É o caso da uva Riesling, na Alsacia, norte da França, assim como a Tempranillo na Ribera del Duero. No Brasil, há um caso onde a uva está ligada historicamente à região: é a uva Goethe, em Urussanga e Pedras Grandes, em Santa Catarina. Nesta região de verões quentes, que está há 30 kilômetros do litoral e quase na subida da serra do Rio do Rastro, há uma colônia italiana, com o hábito de beber vinho. Era necessário encontrar a uva adequada ao clima e ao solo. Caruso MacDonald, importante vinhateiro na época, descobre em suas andanças inúmeras variedades, elaborando testes. Entre elas, descobre a Goethe. Original dos Estados Unidos, é um híbrido, ou seja, um cruzamento de duas variedades, sendo 85% europeu e 15% americano. A uva chega entre os colonos italianos no início do século XX. Dos anos 20 aos 60, fez a fama dos vinhos de Urussanga. Com a chegada da mineração, muitos colonos abandonaram os vinhedos e foram às carvoarias. A uva tornou-se símbolo de resistência, daqueles que ainda queriam ficar no campo e preservar suas raízes, mesmo com todas as crises financeiras que vieram pela frente. Assim como ela resistiu ao clima e superou às pragas do solo que existiam na região, eles resistiriam a todas as dificuldades. Os agricultores falam da sua uva com orgulho, vivem esta cultura diariamente. Hoje Urussanga, através de projetos, tem buscado a melhoria de qualidade de seus vinhos, aprimorando as pequenas vinícolas, realizando pesquisas em torno da Goethe. Principalmente, buscam elaborar a Goethe com os mesmos cuidados que uma uva branca vinifera, como Sauvignon Blanc e Chardonnay, deve receber. A produção atualmente é muito pequena, são apenas 40 hectares, elaborados por vinícolas familiares. O resultado são vinhos muito aromáticos, lembrando notas moscatéis, com bom frescor, moderada graduação alcoólica, muito saborosos, para acompanhar peixes e frutos do mar. Pela pequena quantidade, toda a produção é vendida na própria região. O acesso é fácil, Urussanga está próximo à Criciúma, a caminho de quem segue para São Joaquim. Em janeiro, realizaram a Festa da Vindima. No passeio, vale visitar a Vitivinícola Urussanga, no centro da cidade, onde se pode conhecer ainda mais sobre a história desta uva. Outra opção é desfrutar um dia bem especial na Villa Mazon, onde, além da vinícola, há pousada e restaurante, e, entre vinhedos, num lugar silencioso e aconchegante, degustar o vinho da casa "Nascondiglio di Goethe", um frisante leve e muito agradável.

(Caderno de Gastronomia, Zero Hora, 18/02/2011 - Maria Amelia Duarte Flores)

Comentários

Unknown disse…
Oi Maria Amélia,

Eu li a algum tempo atrás que o pessoal daqui da serra estava reclamando por eles usarem o nome espumante, para vinhos feitos a partir da uva Goethe.

Mas pelo que eu vi agora só a V.Urussanga que ainda usa o termo (na verdade vi que eles usam "spumante", não sei se foi por isso), pois as demais vinícolas aparentemente só tem o frisante...

Aqui no RS só vi vinhos desta uva numa vinícola na "Rota das Pipas" em Rolante e no Salvatti.
Sim, ainda é uma polêmica, eu acho que a produção é tão pequenina e tão focada na região que nem deveriam estar discutindo isto... Mas enfim, eu gosto do projeto da Goethe pq ele é muito vinculado a história, preservação, em uma região que é tão castigada pelas mineradoras. Não sei se é a mesma uva Goethe, pois há discussões sobre que a do RS e Paraná não seria a mesma de Urussanga...

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