Angelo Gaja


Angelo Gaja
Paixão, arte e muita fé na qualidade e trabalho.
A transformação na história de uma região

(relembrando textos de 2011...)

Uma das mais belas e importantes regiões na gastronomia mundial é o Piemonte. Estas magníficas colinas, hoje cobertas de vinhedos, são cercadas pelos Alpes e escondem em seus recantos inúmeros segredos, histórias e sabores. Muito influenciada pelos franceses, é famosa pela força do trabalho, pela agricultura de terroir e pela personalidde muito presente em tudo que produz. O Piemonte dita tendências, traz descobertas.


É a terra do tartufo bianco, uma iguaria rara e caríssima, que se esenvolve em seus bosques no período de outono e é ecnontrada em caçadas com cachorros treinados para tal. O tartufo pode atingir cifras de mais de dois mil euros ao quilo. É nesta terra que estão algumas das melhores avelãs do mundo; não é por acaso que Alba tem aroma de chocolate. Aqui nasce a Ferrero, por conseqüência a Nutella, sem contar as dezenas de fábricas artesanais de trufas e doces. O risotto piemontês, a seleção de queijos, tudo é uma delícia. Nos vinhos, é outra referência: é a região da Itália com o maior número de DOC e DOCGs. Aqui estão os vinhos dos reis, o Barolo e o Barbaresco, como também a alma do Natal, o espumante Asti e o Panetone. Impossível não se apaixonar.

É tamanha a importância da gastronomia que aqui começa o movimento internacional "Slow Food". Focando a preservação dos valores, a história, a autenticidade, está na cidade de BRA a sede mundial do movimento, bem como a universidade que pesquisa e preserva estes conceitos. Mas todo este senso crítico, a preocupação de valorizar suas coisas e a grande capacidade de trabalho não é a toa, está na alma piemontesa, no jeito de ser de cada habitante. E é isto que torna estes vinhos e estes sabores tão especiais.



Para conhecer descobrir a região, realizamos um tour de vinhos, onde, juntamente com quinze participantes, tivemos a honra de passar alguns dias em contato com esta cultura, visitando adegas, degustando cardápios regionais, conversando com os agricultores. Subimos as colinas do Langhe, atravessando o rio Tanaro, em direção ao povoado de Barbaresco. Com apenas 600 habitantes, está no topo de uma colina, onde as vistas panorâmicas embriagam a qualquer apaixonado por vinho. Lá está um dos melhores produtores do mundo: Gaja.

A história de Gaja inicia ainda em meados de 1890, onde já havia a produção de Nebbiolo, uva ícone da região até os dias atuais. A névoa que cobre as colinas durante a maturação preserva a acidez e os aromas frutados, que vão garantir aos melhores exemplares mais de trinta anos de envelhecimento. As antigas avós já insistiam em preservar a qualidade; a cantin sempre foi famosa pela pequena produção e busca da excelência em todos os detalhes. Porém, foi o filho Ângelo Gaja quem revolucionou os conceitos. Gaja buscou inovar e agregar tecnologia em épocas que a tradição cegava e limitava os produtores; buscou entender o mercado, agregar variedades, modernizar o que fosse possível, porém sem nunca perder os valores de base: o amor a sua terra, a procedência e a união da família.




Após uma visita pelas instalações, conduzida pela Sônia, uma das relações públicas da empresa, o grupo segue à sala de degustação, onde os ícones "Barbaresco", "Sperss Langhe" e "Gaia&Rey Chardonnay", já estão servidos. Enquanto o grupo degusta, entra a sala, como de surpresa, Angelo Gaja. Encantado com o público brasileiro, que a cada dia reconhece mais a qualidade de seus vinhos, Gaja é cordial, gentil, e passa a contar a seu modo a história do vinho e toda a ligação que este tem com a saúde, a história e a vida dos homens. Fala de arte, do quanto o produtor de vinhos é um artesão, que precisa de liberdade para criar, precisa de condições, ser dono da terra e ter o controle. Traz a beleza da tumba de Tutankamon, onde dezessete ânforas continham detalhes sobre a produção do vinho na época, o que julga que já diferenciava o vinho de qualquer outra bebida: era cultura, assim como é hoje! Diz que o vinho é uma bebida natural e de quanto faz bem às pessoas se bebido com moderação. Aborda conceitos de luxo, valores familiares, conhecimentos que passam por gerações e também de criatividade. Não gosta do comunismo que engessa nem do capitalismo que escraviza: gosta do equilíbrio. Quer preservar a paisagem, quer que seus filhos sigam em Barbaresco, não quer indústrias invadindo as colinas ou agressão ao meio ambiente. Não fala de seus vinhos, pois não precisa, a qualidade dos mesmos fala por si.





A convicção da palavra do homem que ousou renovar a Nebbiolo encanta. A ousadia em cultivar Cabernet Sauvignon para ganhar mercados, aprimorar a qualidade das DOCGs, principalmente Barbaresco, em tempos onde o reconhecimento estava se perdendo é louvável. Hoje as terras de Barbaresco, as quais estavam fadadas ao abandono, não tem valor calculável, mas fala-se em milhões de euros ao hectare. Isto pois um jovem resolveu ousar, formar equipes e jamais esquecer os conceitos de qualidade. Em safras ruins, Gaja é prático: não vinifica. Seu limite são 350 000 garrafas anuais, podendo ser menos, pois é a natureza quem dita. Os nomes valorizam vinhedos, histórias de famílias. Darmagi é o Cabernet Sauvignon ícone, Barbaresco o clássico. A Nebbiolo é sempre a estrela. Os vinhos são gastronômicos, combinam com boa gastronomia, carnes de caça, pratos intensos. Aos brancos, a combinação perfeita é o aroma do tartufo.

O Piemonte é a prova intensa de terroir. O vinho não nasce sozinho, surge da mescla de culturas que uma terra recebe, das mãos que colhem, do que a natureza beneficia. Toda esta qualidade, este senso crítico, estas mesas fartas e a exuberante beleza natural tem origens francesas, romanas. O doce do chocolate contrasta com a acidez e robustez dos vinhos. A delicadeza do tartufo exige a artimanha da caça, do segredo de saber onde estão. Esta sabedoria é o patrimônio. Transformou-se com o tempo, aprimorou-se e rompeu suas fronteiras. Entender e conhecer o Piemonte é como apreciar um bom vinho: leva tempo, exige conhecimento e uma grande presença de espírito. A beleza e a magia está em cada detalhe, cada aroma ou sabor, basta se deixar conhecer.




A vida de Gaja está contada no livro "A arte de fazer um grande vinho", do jornalista americano Edward Steinberg.
A visita foi uma gentileza da Importadora Mistral, em apoio ao Tour de Vinhos - Itália - Grupo Vinho e Arte/Porto Brasil Viagens, em maio de 2011.


(Matéria escrita por Maria Amélia Duarte Flores para a Revista Sabores do Sul)

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