Vivendo sonhos na Toscana | Um almoço no Castelo Dalbola

Entrando em clima de "Tour da Itália", encontrei este belo texto que escrevemos para a Revista Bon Vivant, em 2011, relatando nosso almoço no Castelo Dalbola, em Radda in Chianti! Sempre é bom lembrar - e saber que nesta semana estaremos por lá!

TOSCANA


Um dia dedicado a transformar sonhos em realidade. Uma experiência única por uma das mais belas e cobiçadas paisagens do mundo: a Toscana. Ver as montanhas, escutar as histórias e os cantos dos pássaros, provar os queijos, sentindo o aroma das ervas, foram algumas das sensações de um dia dedicado a desvendar e desfrutar o Chianti. Através do Tour de Vinhos Itália, promovido pela Vinho e Arte,15 apreciadores de gastronomia e história puderam aprender um pouco mais sobre esta magnífica região e que
a partir de agora compartilho com você leitor.



(Caprili, Montalcino)

 A Toscana é composta de impressionantes colinas e vilarejos medievais. Vinhedos, oliveiras, trigo e papoulas disputam cada cantinho da terra, totalmente florida, pois é primavera. As inúmeras histórias e lendas, repletas de arte, mas também de muito sangue, principalmente pelas guerras entre Florença e Siena, fomentam o imaginário, principalmente na busca das respostas dos motivos pelos quais todos queriam ter esta terra. Berço do Renascimento, a arte está por tudo: nas paredes, no modo de viver, em cada prato
que vai à mesa. Aqui nasceram grandes artistas. Florença chegou a ser a segunda cidade mais importante da Europa. Aqui também surgiram autores, o querido menino Pinocchio é fiorentino. Mas é o vinho sempre um dos centros das atenções. É na Toscana que estão importantes vinhos, como Brunello di Montalcino e, claro, o Chianti.

(Vinhedo em Montalcino, Caprili)

(Detalhes do Castelo Dalbola, Radda In Chianti)

(Radda in Chianti, lindo vilarejo típico toscano)


Galo Nero

E tamanha era esta disputa de territórios no Chianti que, em um determinado momento, necessitou-se organizar a denominação. É aí que a mais forte das lendas enológicas nasce: o Consorcio Galo Nero.
Tratou-se então, que em uma data, dois cavaleiros  partiriam de pontos centrais das cidades de Florença
e Siena, ao cantar de um galo e que, em seu ponto de encontro, estariam determinados os territórios que pertenciam a cada cidade e às denominações de origem de seus vinhos. Siena preparou então um galo branco para que despertasse em horário adequado, mantendo força, saúde, assim permitindo ao cavaleiro correr. Porém, Florença adota um galo preto e, ao contrário de Siena, prende o galo em um ambiente escuro, corta-lhe a alimentação, fazendo com que o animal ficasse bastante desorientado acerca de horários. Na referida data, por todos estes fatores, o galo preto acaba por despertar mais cedo: assim, o cavaleiro fiorentino corre antes e acaba por encontrar o outro cavaleiro a apenas 18km de Siena. Assim, ficava demarcada a região do Chianti Classico, cujo símbolo torna-se o Galo Nero, o que acabou por qualificar estes vinhos, atualmente, como muito especiais.

Castelo Dalbola

*Caves do Castelo Dalbola e as tradicionais barricas italianas


A visita concentrou-se em um dos corações da região, no vilarejo de Radda in Chianti, onde estivemos no Castelo Dalbola. Tradicionalíssimo produtor, cujo conhecimento atravessa gerações, é repleto de histórias vinculadas as classes altas, ao Chianti e toda a mística da região. Atualmente, o Castelo pertence ao grupo Zonin, que efetuou restaurações e aprimora os processos a cada dia, garantindo reconhecimento internacional a todos os seus vinhos. Os jardins da propriedade são um encanto a parte, onde a horta de alecrins traz cheiros inesquecíveis. A uva predominante é a Sangiovese, elaborada e colhida de inúmeras formas. Após uma detalhada visita por todos os ambientes, com vistas panorâmicas, serviu-se um almoço
tipicamente toscano, em harmonização com todos os vinhos de Albola. As boas vindas iniciaram-se
com Antipasti Toscano, composto por Bruschetta, além de Salumeria. Para acompanhar, foi degustado Albola Pinot Grigio Friuli DOC, para conhecer mais do que o grupo elabora fora da Toscana. A
ótima acidez e o perfume cítrico típica do Pinot fez a diferença, sendo perfeito para acompanhar
o sabor do tomate presente nas bruschettas. Tudo condimentado com o azeite produzido na casa, em
10 hectares de oliveiras antigas.

Pinot Grigio, elaborado no Friuli.

Aromas e sabores
Na sequência de serviço, vieram os tintos Chianti, Chianti Classico e Chianti Classico Riserva. O primeiro é elaborado com uvas que venham de toda a região do Chianti, sendo ou não pertencente ao território Galo Nero. É um vinho de consumo corrente dos italianos. Após, com a chegada do prato principal, uma pasta 
com ragu de javali, caça muito habitual do entorno, foram servidos os demais. O Chianti Classico Castelo Dalbola possui ótimo corpo, sendo muito redondo, vinoso, agradável. O molho possuía bom equilíbrio de temperos, se percebendo o grano duro da massa e o sabor pronunciado do javali. Porém, ao colocar o queijo grana, de altíssima qualidade, a parceria tornou-se perfeita com o Chianti Classico Riserva. A maturação das uvas, que possibilitam um vinho de 13,5ºGL, com toda a fineza do envelhecimento mais longo que o Chianti tradicional, mostrou o potencial de guarda do mesmo.



Antes do queijo, degustou-se o Acciaiolo 2005, um dos mais importantes vinhos da Toscana, que é um corte de Cabernet Sauvignon e Sangiovese, cujas uvas são especialmente selecionadas. Considerado pela Wine Spectator um ícone, merece ainda muito tempo em garrafa. Fez parceria a uma coleção de queijos toscanos, principalmente pecorino, junto com geléia de cereja e mirtilo, por recomendação da sommelier 
do Castelo. Um vinho e um momento único. 



Em meio a confraternização, encerrando o encontro, serviu-se o tradicional Vin Santo junto aos biscoitos Cantucci. Este antigo vinho de sobremesa, cujo processo mescla as técnicas antigas de vinificar amarone, com uvas que ficam em processo de apassiamento e posteriormente vinificadas, só é vendido com mais de seis anos. Assim, tem sabor e aroma a caramelo, mel, amêndoas, sendo um verdadeiro pecado do bem 
aos amantes da gastronomia. 




A Toscana é assim: boa mesa, um belo sol, muitas paisagens. Não há como não se apaixonar por cada sabor. A arte e romantismo estão por tudo e é este seu maior atrativo, a autenticidade. Um passeio que todo o apaixonado por vinho deve realizar ao menos uma vez na vida, um sonho que se pode provar e sentir

Escrito por Maria Amelia Duarte Flores, em maio de 2011.



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