Cartilha da Denominação de Origem Vale dos Vinhedos
Reproduzo material escrito em 2010 para elaboração da Cartilha Explicativa sobre Vale dos Vinhedos!
Indicação Geográfica do Vale dos Vinhedos
Uma conquista
Brasil do futuro é
agora: a vida melhorando, o mercado crescendo, novos produtos chegando, tudo
acontecendo ao mesmo tempo. E com isto quem ganha são os consumidores, que
passaram a ter um poder e tanto, que é o de escolher e exigir o melhor.
No momento da
escolha, surgem as mais variadas exigências. E as empresas que não atenderem
estas expectativas, não há dúvida, estão fora do mercado.
Neste mundo
globalizado e competitivo, também é necessário proteger a identidade, a forma
que se pensa e se vive em uma região. O vinho é um orgulho da nossa terra, junto
com a cultura da nossa gente.
Assim, no mundo inteiro, uma das formas de proteger e assegurar a qualidade de um produto é criar uma Indicação Geográfica (IG). Estas duas palavrinhas são de extrema importância e de muita responsabilidade: é a partir dela que se protege um produto, normatizando a forma de elaborar e de se controlar o processo. É um jeito bastante antigo de destacar uma identidade: na Europa, principalmente, são milhares as indicações que protegem queijos, vinhos, destilados, cafés e outras delícias.
Assim, no mundo inteiro, uma das formas de proteger e assegurar a qualidade de um produto é criar uma Indicação Geográfica (IG). Estas duas palavrinhas são de extrema importância e de muita responsabilidade: é a partir dela que se protege um produto, normatizando a forma de elaborar e de se controlar o processo. É um jeito bastante antigo de destacar uma identidade: na Europa, principalmente, são milhares as indicações que protegem queijos, vinhos, destilados, cafés e outras delícias.
E, como caso de
sucesso e referência mundial, a região da Serra Gaúcha tem a honra de ter a
primeira Indicação Geográfica brasileira – o Vale dos Vinhedos! Contemplando as
cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, é muito mais do que
um avanço profissional: é algo que valoriza ainda mais a nossa região. Além atender
às exigências do novo perfil dos consumidores, fomenta o turismo, atrai a atenção
da mídia...
Uma Indicação
Geográfica, que iremos chamar de IG, representa além do que apenas uma norma.
Ela eleva os produtos trazendo geração de empregos, renda e riqueza para toda a
região. Esta é uma conquista de todo nós!
Mas, para que possamos aproveitar
todos os benefícios desta trabalhosa conquista, não só temos que nos orgulhar,
mas também conhecer o que significa ter uma IG. Abra um bom vinho, relaxe e
venha conosco conhecer mais sobre o Vale dos Vinhedos.
Índice
1. O que é uma
Indicação Geográfica
2. Quando um produto
merece ter uma IG?
3.
Como nasceu a IG Vale dos Vinhedos?
4.
Quem autoriza o registro desta IG?
5. Se
uma IG serve para proteger e valorizar a identidade de um produto, qual é a
identidade dos vinhos da IG Vale dos Vinhedos?
6.
Quais as diferenças entre Indicação de Procedência e uma Denominação de Origem?
7.
Quais são as regras da DO Vale dos Vinhedos?
- As uvas
- Os vinhos
- Resumo das regras
8.
Como posso saber que um vinho pertence ou não a IG Vale dos Vinhedos?
9.
Quem irá controlar esta classificação?
10. Quanto mais específico... mais caro?
11. E
lá fora, já reconhecem?
12. Tá
bom, e o que a região ganha com a IG Vale dos Vinhedos?
Conclusão
Parceiros
Glossário
1. O que é uma Indicação Geográfica?
É uma indicação que demonstra
que um produto é patrimônio regional, onde normas e regras específicas já estão
organizadas para preservar esta identidade. É critério básico que ele já seja
parte da cultura do povo, tenha uma história de vínculo com as pessoas e esteja
dentro de uma determinada área demarcada. Este conceito é muito antigo, foi
surgindo aos poucos e sendo necessário para proteção do patrimônio cultural ao
longo do tempo. Uma das mais antigas indicações é a do Vinho do Porto, em
Portugal e uma das mais famosas, Champagne, na França.
Por exemplo: quem
não adora um Chocolate Belga? Se não existissem normas que o protegessem, cada
empresa da Bélgica poderia fazer de qualquer maneira! Sem dúvida, teríamos uma
perda da identidade, uma tremenda confusão e a não continuidade de um trabalho
que já dura séculos e o assegura como um dos melhores do mundo! Mas isto só
teve sucesso devido à proteção que os empresários buscaram, protegendo todo
este patrimônio cultural. Sem esta proteção, em qualquer lugar do mundo,
qualquer empresa poderia colocar no seu rótulo “Chocolate Belga” (só que
elaborado na China, Bangladesh ou qualquer outro lugar do planeta !!!). Cadê o
respeito?
2. Quando um produto merece ter uma IG?
A IG não surge, ela
já existe, já é conhecida e possui renome. É uma forma de reconhecer e
oficializar o que já é valorizado, por ser um produto único, regional,
relacionado à natureza do lugar e do homem que lá mora. No nosso Vale dos
Vinhedos o vinho é a identidade, o cenário, o hábito alimentar: apenas se
buscou conhecer as uvas que melhor se adaptaram (e ganham prêmios no mundo
inteiro) e as formas de elaborar que mostrem o melhor sabor da nossa terra!
3. Como nasceu a IG Vale dos Vinhedos?
O Vale dos Vinhedos
nasceu com a chegada dos imigrantes italianos à Serra Gaúcha, em meados de 1875. A uva foi trazida não
só na mala, mas nos corações: ela era o gostinho da Itália, um pouquinho da
alma de cada família, um alimento rico para agüentar a jornada do dia. Um a um
os vinhedos foram surgindo. Vinícolas foram construídas, as famílias foram
aumentando e a história do vinho brasileiro acontecendo. Mais do que um
alimento, o vinho se tornou negócio, se qualificou, e se espalhou pelo Brasil e
Exterior. Foi este trabalho que fez o vinho do Vale dos Vinhedos ficar
conhecido e motivou o seu aprimoramento a cada dia. É esta identidade e paixão que
a Indicação Geográfica quer valorizar e proteger.
4. Quem autoriza o registro desta IG?
As normas para se
definir a IG foram determinadas e constituídas pela APROVALE - Associação dos
Produtores do Vale dos Vinhedos, junto a assessores técnicos e jurídicos
especializados, além das parcerias com unidades da Embrapa e com a Universidade
de Caxias do Sul e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul entre outros. É
como uma autorregulamentação, a própria entidade e parceiros criam as regras e
as fazem cumprir. Após a conscientização das empresas, definições, padronização
e aprovação, a IG seguiu para registro no INPI – Instituto Nacional de
Propriedade Industrial. É a valorização e proteção da nossa história, sabedoria
e cultura!
5. Se uma IG serve para proteger e valorizar a
identidade de um produto, qual é a identidade dos vinhos da IG Vale dos
Vinhedos?
A identidade está
nos tipos de uvas permitidas, nas maneiras de elaborar o vinho. Está nos
aromas, no paladar de cada garrafa que os consumidores abrirem: ela tem que
expressar as melhores características da nossa terra. Os vinhos do Vale dos
Vinhedos vão exaltar toda a delicadeza e potencialidade da uva Merlot, os perfumes
típicos de um bom Chardonnay, além das borbulhas, equilíbrio e qualidade dos
espumantes brasileiros.
6. Quais as diferenças entre uma Indicação de
Procedência e uma Denominação de Origem?
Tanto a Indicação de
Procedência quanto a Denominação de Origem são classificações que pertencem a
uma Indicação Geográfica.
A Indicação de Procedência se
relaciona com o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de sua
área, conhecido por ter um determinado produto, já patrimônio cultural, famoso
por ser deste local. Já a Denominação
de Origem vai além: quando é
reconhecida torna-se a ser o “nome” deste produto, onde todos os detalhes como
qualidade, estilo, sabor, se relacionam a terra, às pessoas e a história da
região. Na transição para Denominação de Origem (DO), as normas e controles ficam
muito mais específicos, como não só o tipo de uvas, mas as quantidades máximas
que podem ser colhidas (quanto menos um vinhedo produzir, melhor será a
qualidade da uva), assim como detalhes do processo de elaboração do vinho.
Nem todos que
utilizavam o selo da Indicação de Procedência seguirão para a DO. Entretanto, é
bom ressaltar que todas as garrafas elaboradas dentro do território da IG Vale
dos Vinhedos, independente de terem ou não a DO, trazem em si, o sabor e
autenticidade do terroir do Vale dos
Vinhedos, protegidos pela Indicação Geográfica.
7. Quais são as regras da DO Vale dos Vinhedos?
Para estar dentro
das normas da IG Vale dos Vinhedos, as empresas devem elaborar vinhos finos,
como tintos, brancos e espumantes, com requisitos específicos, detalhados pela
Aprovale, através do Conselho Regulador da Indicação Geográfica.
Estas regras tratam
da quantidade máxima de uvas que poderão ser cultivadas pelas parreiras, dos
tipos de uvas e a forma como devem ser processadas na hora da elaboração dos
vinhos.
Estas são as regras básicas:
- As uvas
Para a DO. podem ser
cultivadas apenas alguns tipos, também chamadas de variedades, de uvas “Vitis
Vinifera” (aquelas destinadas a processamento para vinhos finos). No Vale dos
Vinhedos, a variedade tinta que ao longo dos anos mostrou melhores resultados
nos vinhos foi a Merlot. Então, foi eleita para ser a representante da
identidade da nossa D.O. Entretanto, também se pode utilizar Cabernet Sauvignon,
Cabernet Franc e Tannat.
No caso das uvas
brancas, a D.O. engloba a Chardonnay e a Riesling Itálico. Para espumantes,
vale também a Pinot Noir, que na verdade é uma uva tinta, mas da qual se extrai
um vinho base branco, que traz muita elegância.
Em todos os rótulos
da DO, 100% das uvas devem ser cultivadas nas áreas dentro dos limites do Vale
dos Vinhedos. As videiras têm que ser plantadas exclusivamente em espaldeira
(similar a uma cerca). E, de uma forma geral, não se pode produzir mais do que 10
toneladas da uva por hectare para vinhos e 12 toneladas por hectare para
espumantes.
E tudo isto deverá
ser provado e reconhecido!
- Os vinhos
Os vinhos da D.O
poderão ser varietais, aqueles elaborados praticamente com só um tipo de uva.
Para os vinhos tintos, a DO Vale dos Vinhedos elegeu o varietal Merlot. Já no
caso dos brancos, o vinho varietal é o Chardonnay.
Mas a DO também
aceita os assemblages (são os vinhos
elaborados a partir de “misturas” ou “cortes”) de outras uvas. No caso dos
tintos, no mínimo 60% do vinho deve ser Merlot, podendo ser complementado com vinhos
de outras três uvas tintas especificadas nas regras da D.O: Cabernet Sauvignon,
Cabernet Franc e Tannat.
Para os vinhos
brancos do tipo assemblage, pelo
mesmo 60% deve ser de Chardonnay e o restante pode ser de Riesling Itálico.
Para espumantes, o vinho deve ser de base Chardonnay e/ou Pinot Noir, pelo
menos em 60% de sua composição. O restante poderá ser complementado por
Riesling Itálico. Só podem ser elaborados pelo chamado método tradicional (que
na França é conhecido como champenoise),
com surgimento das “borbulhas” em processo natural, através da fermentação na
própria garrafa.
- Resumo das
regras:
- Uvas permitidas:
Tintas: a Merlot,
além da Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Tannat e Pinot Noir
Brancas: a Chardonnay,
além da Riesling Itálico
- Vinhos elaborados com a DO:
Tintos: varietal Merlot
e o assemblage com 60% de Merlot + Cabernet
Sauvignon, Cabernet Franc, Tannat
Brancos: varietal Chardonnay
e o assemblage com 60% Chardonnay + Riesling
Itálico
Espumantes: base
mínima de 60% Chardonnay e/ou Pinot Noir, complementada com Riesling Itálico
8. Como posso saber que um vinho pertence ou não a IG
Vale dos Vinhedos?
Os vinhos classificados
como Denominação de Origem (DO) trazem impressos em seus rótulos uma identificação
tanto na parte da frente quanto no contrarrótulo da garrafa.
Além disto, estas garrafas
são numeradas.
Estes números
funcionam como códigos para que as entidades envolvidas com o controle da DO
possam identificar a origem daquele vinho que está sendo vendido. Assim, cada garrafa é única!
9. Quem irá controlar esta classificação?
Quem faz o controle
da IG Vale dos Vinhedos é a Aprovale, através do Conselho Regulador da
Indicação de Procedência. Ele é formado por representantes das vinícolas
associadas, órgãos de pesquisa e ensino, além de consumidores.
A cada safra as
vinícolas enviam à Aprovale uma solicitação para que o Conselho avalie os
produtos que elas desejam que sejam identificados com a DO. A Aprovale recolhe
amostras destes vinhos e eles passam por análises da documentação para
verificar se os padrões de cultivo e de elaboração estão de acordo com as
normas estabelecidas. Estas amostras também são analisadas em laboratórios
especializados e, por fim, passam por uma degustação feita por um grupo de especialistas,
composto de técnicos da Embrapa, da Aprovale e da Associação Brasileira de
Enologia.
Os vinhos
classificados com a DO devem ser aprovados em todas estas etapas. Isto
significa que foram atendidas a todas as regras e padrões estabelecidos. Ou
seja, isso não é para qualquer um. Somente os melhores são aprovados!
10. Quanto mais
específico... mais caro?
Mais valorizado! As
vinícolas que entrarem na IG Vale dos Vinhedos têm que seguir as normas e
cuidar de cada detalhe da uva e do vinho. E, para fazer um bom produto e manter
a qualidade, há necessidades de investimentos. E os consumidores valorizam muito
mais um produto certificado e exclusivo, pois eles percebem no paladar toda
esta qualidade! E o valor agregado se
espalha por toda a região, que também precisa se preparar para tratar os
clientes com a mesma dedicação e cuidado que eles exigem!
11. E lá fora, já reconhecem?
Yes! Um dos grandes
méritos da IG Vale dos Vinhedos foi o reconhecimento da União Européia. Ou
seja, hoje nossos vinhos possuem marca e prestígio para competir e crescer em
qualquer lugar do mundo.
Fora do Velho
Continente, somente o Vale dos Vinhedos e o Napa Valley, nos Estados Unidos,
possuem este reconhecimento. É mais credibilidade e respeito para nosso país e
nossos produtores!
12. Tá bom, e o que a região ganha com a IG Vale dos
Vinhedos?
Muita coisa! Somos
agora referência mundial. Além do Vale ter sua história protegida, ganhamos em
divulgação, turismo, mais empregos em restaurantes, prestação de serviços! Mais
pessoas ficam no campo, nas suas propriedades! Facilita muito mais na hora de
exportar, traz satisfação e orgulho a todos os envolvidos!
Conclusão
É uma nova fase para
o Vinho do Brasil. Um produto nosso, já elaborado com amor, ganha agora mais
qualidade e controle. O Brasil entra na lista dos produtores mundiais de vinho,
não só pela quantidade elaborada, mas pela seriedade e profissionalismo com que
trata o setor. O número de visitantes já triplicou; as exportações já
acontecem. A crítica mundial já fala nos vinhos brasileiros. Todos querem
conhecer o Vale dos Vinhedos. É hora de se orgulhar ainda mais dos nossos
produtores, proteger nossa paisagem. E divulgar para todo mundo esta conquista
com um belo brinde! Saúde.
Parceiros
na conquista da DO Vale dos Vinhedos:
Embrapa Uva e Vinho
Embrapa Clima Temperado
Embrapa Florestas
IBRAVIN – Instituto Brasileiro do Vinho
ABE – Associação Brasileira de Enologia
UCS – Universidade de Caxias do Sul
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande
do Sul
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas
FAPERGS – Fundação de Amparo a Pesquisa do
Estado do RGS
FINEP - Financiadora de Projetos
Glossário
APROVALE - Associação dos
Produtores do Vale dos Vinhedos
Assemblage ou corte – é a arte de misturar ou casar dois ou mais
vinhos em uma garrafa a fim de criar um único vinho, com características
espefícicas. Alguns dos grandes vinhos do mundo são assemblages como os famosos Bordeaux, por exemplo.
Espaldeira – sistema de
conduzir a planta que imita uma “cerca”. Assim garante melhor exposição ao sol
e ventilação aos cachos, garantindo uma melhor maturação.
Método
Tradicional ou Champenoise – processo de
elaboração de espumantes cuja tomada de espuma ocorre dentro da própria
garrafa.
Terroir – Expressão
francesa utilizada para designar o conjunto características geográficas como
solo, clima e topografia somados ao manejo e à cultura local. A palavra não tem
tradução para outros idiomas, mas é usada em todos os países como elemento
determinante da identidade do vinho que uma região produz.
Variedade – tipo de uva
Varietal - aqueles
elaborados praticamente com só um tipo de uva
Vinho
Base
– vinho branco utilizado para elaboração de espumantes. É como um vinho branco,
porém com maior acidez e menos álcool que a média.
Vitis
Vinifera
– nomenclatura de classificação botânica da videira, incluindo neste grupo as
variedades consideradas ideais para vinhos finos, como Cabernet Sauvignon,
Merlot, tannat, chardonnay, Sauvignon Blanc, Viogner, etc.
Responsável pelo Projeto: Janine Basso Lisboa -
Sebrae/RS
Produção dos textos: Maria Amélia Duarte Flores
Revisão: Martha Caus e Jaime Milan – Aprovale
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