O sertão vai virar mar | O Vale do Rio São Francisco

O vinho do nordeste, do Brasil, está em rede nacional na nova minissérie da TV Globo - Amores Roubados. A região escolhida como cenário foi a do Vale do Rio São Francisco, onde água é vida e está uma das mais intrigantes zonas de cultivo de uvas do mundo todo.

(queremos mais enólogos assim! hehehe!)

Tá certo que o Cauã Reymond faz papel de enólogo, não de sommelier (mas a palavra ficou mais "bonita") e que aquela degustação às cegas habita somente a imaginação (principalmente das mulheres ao ter um galã tão bonito no "comando"), mas a iniciativa de divulgar o Vinho do Brasil já é super válida, além das paisagens, as quais já tive a honra de visitar duas vezes e ser uma grande entusiasta.

Localizada entre Pernambuco e Bahia, esta região alia um clima e sistema de irrigação únicos, que permitem que uma mesma planta produza até 5 colheitas a cada dois anos. as principais uvas são a Shiraz, Cabernet, além de castas portuguesas; nas brancas, imperam as uvas para mesa, além das moscatéis e Chenin Blanc.
Há também o cultivo de muitas outras frutas, a sensação que se tem ao visitar as fazendas é uma chegada ao paraíso.


Abaixo transcrevo parte do material que está no nosso livro, "Diagnóstico do Enoturismo Brasileiro", onde falamos tecnicamente sobre o Vale. 

A minissérie foi gravada na propriedade do grupo dão Sul/ViniBrasil, em Lagoa Grande. 

Boa leitura!!!


VALE DO RIO SÃO FRANCISCO

Zona de interesse enoturístico – eixo de Petrolina e cidades dos arredores

Estado de Pernambuco

PETROLINA, O SÍMBOLO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Planejada, é a “capital de desenvolvimento do São Francisco”. Está no sertão semiárido, riqueza construída pelo homem. Basta cruzar a ponte para chegar a Bahia. O desenvolvimento une estados, a uva é ícone. Fundada em 1893, Petrolina tem 276 mil habitantes.

Nos anos 70, há uma transformação. Com irrigação, terras das margens do Rio São Francisco são tão produtivas quanto a “crescente fértil do Rio Nilo” ou quanto as planícies de Israel. A caatinga é marrom e, com água, fica verde em poucos dias. Com pesquisas, implantou-se projeto, canais e tecnologia. Surge o “cinturão de produção”, transformando a paisagem e a vida local.



Com clima estável, irrigação e manejo, uma planta de videira pode produzir até três safras por ano. Isto permite que fazendas se organizem para colher uva todos os dias. Manga, melancia, coco, abacaxi, entre outras, transformam a região num oásis. Quebra de paradigmas: o que o mundo imagina por terroir, a região possui ao extremo. Quebram a lógica do repouso da videira. Manejo de poda e água, utilização de hormônios permitidos pelas legislações mundiais permitem o controle do ciclo. Assim, vinícolas não ficam ociosas; custos diminuem e há empregos. A uva é colhida todo o dia; há vinho em elaboração todo o tempo. Prefeituras e governo criaram políticas de incentivos fiscais a investidores. Fazendas são altamente produtivas. Petrolina é ponto de negócios/escoamento da produção.

Outra vantagem é a produção de uvas in natura. Com alto padrão de qualidade e seleção internacional, são exportadas via aérea. Os cachos são selecionados um a um. O excedente, as uvas não aprovadas ou bagas defeituosas, seguem para elaboração do vinho, principalmente espumantes moscatéis. O baixo custo da matéria-prima é diferencial, agregando identidade ao produto e personalidade ao país, elogiado pela crítica internacional.

Está estruturada com aeroporto, sendo o segundo maior do Nordeste, atendido por quatro companhias aéreas para transporte de passageiros e uma para carga. Nas proximidades há depósitos com câmaras frias, garantindo que frutas cheguem em ótimo estado ao seu consumidor final. O despacho via aéreo permite que em oito horas as frutas cheguem à Europa. Hoje, o Vale do Rio São Francisco responde por 90% de exportações nacionais de manga e uva. Também investem em suco de uva.

O Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI assegurou selo de certificação da Indicação Geográfica da uva de mesa e da manga do Vale do São Francisco. Além de ter sede da Embrapa, agora tem também um Curso Superior de Enologia. O sistema de irrigação e a tecnologia agrícola fortalecem a tendência, curiosidade e interesse internacional: 30 a 40% dos turistas são estrangeiros. Com o grande impulso do turismo de negócios e técnico-científico, é alto o índice de ocupação hoteleira em comparativo com a realidade brasileira. Todos os que visitam e conhecem a produção de uvas do sertão semiárido só têm opções de hospedagem e gastronomia em Petrolina. Devido a toda esta expansão ser recente e em progressão geométrica, Petrolina se sobrecarrega. As cidades no entorno não dispõem de estrutura. As vinícolas e grandes propriedades encontram-se nos municípios vizinhos, sendo eles Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista (Pernambuco) e Casa Nova (Bahia).

Passeio pela barragem de Sobradinho - Vapor do Vinho

LAGOA GRANDE (PE)

Surge em 1995 e tem 22.760 habitantes (IBGE 2010), e fica a 40 km de Petrolina. É capital da uva e do vinho do Nordeste, com sete vinícolas. A cadeia gera 10 mil empregos, com 20,5 milhões de kg de uvas e sete milhões de litros de vinho, exportados para outros estados e países. Amplos programas de incentivos fiscais foram instituídos para forçar desenvolvimento. A região atraiu investimentos internacionais, como o grupo português Dão Sul, e empresas familiares como a Bianchetti, contrastando o perfil dos empresários. A uva é colhida todos os dias.

Quanto ao turismo, Lagoa Grande tem paisagem do semiárido nordestino e o rio São Francisco. É região de passeios de barco, pesca esportiva, banhos. O enoturismo é alternativa de renda e marketing. Para valorizar e fortalecer atrativos, está sendo implantada a Enoteca, através de projeto de inúmeros órgãos. O ambicioso projeto será centro de capacitação, divulgação e preservação da história do vinho do rio São Francisco, com área para eventos, exposições, biblioteca, aberta a visitantes e moradores, como base de capacitação profissional. A Vinhuva Fest - Feira do Vinho e da Uva do Nordeste ocorre em outubro a cada dois anos, comemorativa à safra e produção de vinhos do local.

SANTA MARIA DA BOA VISTA (PE)

Criado em 1872, tem 39.435 habitantes. Está às margens do rio São Francisco e, com Petrolina, projeta-se pelos programas voltados para agroindústria e agricultura irrigada. A fazenda e vinícola Milano foi, no Nordeste, a pioneira no cultivo de uvas para exportação e hoje produz vinhos finos.



CASA NOVA (BA)

Dista 572 km de Salvador e 50 km de Petrolina, sendo importante polo do eixo produtivo do Vale do São Francisco. Em 1976, um acontecimento marcante na história do Nordeste brasileiro foi mudar o município de local, com a construção da barragem de Sobradinho e inundação da área original da cidade. O lago formado cobriu as cidades de Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso e Santo Sé.. Assim, pelo Decreto-Lei 1316, de 1974, a área tornou-se de interesse da segurança nacional. A barragem é um dos maiores espelhos d’água do mundo. É alternativa para geração de energia para o Nordeste. O uso turístico do lago é oportunidade, com passeios de barcos, praias e vistas panorâmicas.

Casa Nova possui o maior rebanho de caprinos da Bahia. O queijo de cabra é produto cultural. Uma nova economia é o vinho. Lá está implantado o projeto Fazenda Ouro Verde, parceria da Miolo Wine Group com o grupo espanhol Osborne, focado em vinhos, espumantes e destilados. Uma referência em enoturismo na região, a vinícola está às margens do rio São Francisco. Através de parceria público/privada, criou-se o “Vapor do Vinho”, passeio de barco com saída de Petrolina, eclusagem na Barragem, chegada a Fazenda de Frutas, finalizando na Ouro Verde. A Miolo realiza cursos de degustação da “Escola do Vinho Miolo”, estratégia que aplica em todas as regiões onde atua.

(uvas em Casa Nova / Bahia)


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